ARTIGO CIÊNTÍFICO:
HISTÓRIAS DE VIDA SURDA:
IDENTIDADES EM QUESTÃO
Publicado em 1998
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
Autor(es): Gladis Perlin (
professora e investigadora)
É preciso conhecer esse trabalho lindo e riquíssimo que a
professora gaúcha pós-graduada desenvolveu, baseada em todas as suas
experiências e vivência como surda, com muitos questionamentos, reflexões e posições
onde ela retrata seus sentimentos, conceitos sobre a causa que ela levantou
bandeira “identidade surda” resolveu estudar, investigar o cotidiano de vários
surdos e mudos e apresentou por meio de entrevistas, um trabalho que ela
descreve como:
“Gladis Perlin longo, sofrido e com muita persistência de processo pessoal de
construção e desconstrução de valores, conceitos, visões de mundo, cultura,
língua, etc. Toda a reflexão aqui contida foi o resultado de leituras novas,
que me fizeram pensar o sujeito surdo relacionado com referenciais móveis
constituídos pelos discursos. As relações que tento fazer nesta pesquisa
transitam por muitos aspectos, tais como: as subjetividades, as identidades
culturais, as relações desiguais de poderes que se interpelam e se narram
cotidianamente”.
Veja um pequeno trecho do depoimento de um dos surdos que
ela entrevistou, vale a pena conferir, pois é apenas um, de vários.
Não sei como me
descobri surda. Acho que ser surda é uma consequência normal que somente se
descobre a diferença com o tempo. Eu sentia o silêncio do ser surdo. Creio que
aconteceu por acaso.
Negavam-me os
contatos com LIBRAS, eu e minha irmã também surda fomos oralizadas. Tínhamos
pouquíssimos sinais, nos comunicávamos através de mímica. Era uma comunicação
pobre. Sentia que eu e minha irmã falávamos com os ouvintes e não éramos
entendidas.
Atualmente sinto
raiva quando não entendo e não sou entendida. Acostumei-me a ser surda. Meu
sonho é ser ouvinte, o que gostaria muito. Sinto-me com crises de nervosismo e
tensão por ser surda. Isso me deixa desnorteada, revoltada pela situação. Sonho
sempre em ser ouvinte. Sinto-me triste por não poder ir mais longe. Sinto que estou
numa loucura para poder ser ouvinte.
Gostaria de ouvir
música, tenho vontade de comunicar-me pelo telefone.
Sinto que poucos me
aceitam como surda. Quando estou com ouvintes não aguento. Eles começam a falar
entre si e eu tomo uma atitude qualquer, ou peço licença para ir fazer outra
coisa.
P. Em tua família
acontece a pressão para falar como o ouvinte? Sim. Chamei de Popi meu cachorro. O nome dele é Bobi. Minha mãe
insistiu em corrigir-me até que eu conseguisse pronunciar bem o nome. “Fale
certo, por favor,” é a frase que tenho de ver sempre em seus lábios. Apesar de
minha idade, ela diz que eu tenho necessidade de aprender muitos fonemas.
Quando minha irmã se formar vai me ensinar a oralizar certo (F.).
Fonte:
http://www.porsinal.pt/index. Php?PS=artigos&idt=artc&cat=20&idart=153
.
Na verdade nossa sociedade não se encontra preparada ainda para uma vida compartilhada com a diferença. nossos irmãos surdos ainda hoje sofrem algum tipo de preconceito, e isso faz com que boa parte deles não tenha o acesso aos seus devido direitos regidos na lei.
ResponderExcluirO que a pessoa da entrevista sente em ser surda, é o fato do despreparo de profissionais e da família, com isso ela se tornou uma pessoa triste, por não ser entendida da maneira correta e por não ter tido a motivação para alcançar seus sonhos.