ARTIGO:
Publicado em 12 de junho de 2012 | 17h 00
Cientistas britânicos
apoiam uso de DNA de três pessoas em fertilização
Um dos principais conselhos de
bioética considera procedimento ético; técnica ainda está sob estudo e será
tema de referendo popular.
Um dos
principais conselhos de bioética da Grã-Bretanha publicou nesta terça-feira um
relatório em apoio à criação de embriões usando material genético de três
pessoas, técnica atualmente utilizada em pesquisas e que até o final deste ano
deve receber a aprovação ou rejeição da sociedade britânica em uma consulta
popular.
Polêmica, a
técnica visa substituir material genético defeituoso no óvulo para eliminar
doenças raras presentes na mitocôndria (componente celular que tem a presença
de material genético), como síndromes que podem causar a morte prematura de
crianças.
Conhecidas como distúrbios mitocôndriais, tais
doenças afetam uma em cada 6.500 crianças britânicas e podem causar
incapacidade muscular, cegueira e insuficiência cardíaca.
O relatório,
emitido pelo Conselho de Bioética de Nuffield (um respeitado órgão independente
financiado por fundações internacionais) após oito meses de análise, não encontrou
obstáculos éticos no uso de tais técnicas em tratamentos de reprodução
assistida no futuro.
Limitado na
questão ética, o anúncio não traz mais detalhes sobre aspectos de segurança e
eficácia do procedimento, que ainda estão sob estudo em diferentes centros de
pesquisa.
Realidade
brasileira
No Brasil, o
tema ainda não está em discussão, mas pode ser colocado em pauta caso as
pesquisas britânicas sejam bem sucedidas, disse em entrevista à BBC Brasil
Adelino Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida.
"Em questão
de qualidade dos procedimentos estamos par a par com os Estados Unidos e a
Europa, mas em termos de pesquisa, ainda enfrentamos entraves burocráticos e
éticos que os mantêm muito à nossa frente. Esta técnica específica representa
um debate ainda muito distante no Brasil", diz.
Amaral avalia
que toda técnica que visa diminuir a transmissão de doenças costuma ser bem
vista pela sociedade, mas é preciso ver se ela é bem sucedida.
"Acho que
pode entrar em discussão no Brasil, sim, mas primeiro precisamos ver se é algo
que será comprovado pelos pesquisadores britânicos e se poderá ser replicado em
outros centros", diz.
O médico diz que
ainda neste ano a Sociedade deve ter uma reunião com três pontos principais: o
destino de embriões congelados, a preocupação com a idade das mulheres que
passam por fertilização in vitro (muitas acima de 55 anos estão fazendo o
procedimento) e detalhes de reprodução assistida para casais homossexuais após
a nova legislação de união civil.
Antes de cruzar
o Atlântico, no entanto, o tema ainda deve gerar polêmica não só entre a classe
médica e científica, mas também entre líderes religiosos e diferentes grupos da
sociedade britânica.
'Frankenstein' e
referendo
David King,
diretor da ONG Human Genetics Alert, criticou o procedimento comparando-o à
criação de um "Frankenstein".
"Assim como
a criação do Frankenstein foi produzida a partir da junção de partes de muitos
corpos diferentes, me parece agora que cientistas e seus assistentes bioéticos
ultrapassam o limite do grotesco, das normas da natureza e da cultura
humana", avalia.
"As
técnicas propostas (...) abrem um precedente para permitir a criação de bebês sob
medida geneticamente modificada” e cruzam "o que é normalmente considerado
o limite ético mais importante para a prevenção de uma nova eugenia",
acrescenta.
Geoff Watts, do
Centro Nuffield, diz que a doadora não poderia ser classificada como uma
"segunda mãe" aos olhos da lei e que a técnica poderia trazer
benefícios.
"Se as
pesquisas mostrarem que estas técnicas são suficientemente seguras e eficazes,
nós pensamos que seria ético para as famílias que as usassem se assim quisessem
desde que recebam um nível apropriado de informação e apoio. Elas poderiam
trazer significativos benefícios sociais e de saúde para as famílias e
indivíduos que potencialmente viveriam suas vidas sem distúrbios que podem ser
muitos severos e debilitantes", avalia.
Ainda em janeiro
deste ano o governo britânico decidiu promover uma consulta pública a respeito
do assunto, a partir de setembro. Só depois deste referendo a Grã-Bretanha
decidirá se o método, atualmente usado apenas em pesquisas, poderá ser aplicado
em pacientes.
Atualmente,
seria necessária uma mudança legal no país para que o procedimento possa ser
oferecido a pacientes.
Ao anunciar a
consulta pública, o ministro britânico para Universidades e Ciência, David Wallets,
disse que "cientistas fizeram uma descoberta importante e potencialmente
salvadora de vidas ao conseguir prevenir doenças mitocondriais". Mas ele
faz a ressalva de que, "com todos os avanços da ciência moderna, é vital
que escutemos a opinião do público antes de considerar qualquer mudança".
Distúrbios
hereditários a mitocôndria pode ser encontrada em quase todas as células
humanas, provendo a energia que essas células precisam para funcionar, como os
núcleos da célula, a mitocôndria contém DNA, ainda que em pequenas quantidades.
Em média, um em
cada 6.500 bebês britânicos nasce com problemas hereditários em seu DNA
mitocondrial, cujos efeitos podem ser graves ou até mesmo fatais, dependendo de
quais células são afetadas.
Cientistas
acreditam ter encontrado uma forma de substituir a mitocôndria defeituosa e,
assim, eventualmente prevenir o feto de desenvolver uma doença.
A técnica
consiste no uso de dois óvulos - um da mãe do feto, e outro de uma doadora.
De forma geral,
a técnica poderia permitir aos cientistas trocar o DNA mitocondrial do óvulo da
mãe, caso tenha potencial causador dos distúrbios, pelo de uma doadora
saudável. O núcleo, no entanto, que mantém as características pessoais seria
originado pelo material genético do pai e da mãe da criança.
O embrião
resultante tem uma mitocôndria em tese saudável e ativa vinda da doadora e não
da mãe.
A
embriologia é a ciência que estuda a formação dos complexos, órgãos e sistemas
de um animal, a partir de uma única célula indiferenciada. No entanto creio que
faz parte da biologia do desenvolvimento todo Processo de descobertas e formação
de células germinativas desde que sejam eficientes e seguras, se esse
método realmente for aprovado e comprovado, a ciência terá um grande avanço e
marco na história da humanidade.
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